POLÍTICAS INFORMACIONAIS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA A FORMAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO-EMPREENDEDOR

 

TAVITA ROSA B. CARDOZO

tavitarosa@yahoo.com.br

 

MARILENE LOBO ABREU BARBOSA

marilobo@terra.com.br

 

 

Este estudo resulta de pesquisa desenvolvida com o objetivo principal de averiguar as características da cultura empreendedora e o perfil do trabalhador-empreendedor, fazendo um paralelo com a formação e a profissão do bibliotecário, de modo a identificar as competências e habilidades necessárias para que este profissional se torne um empreendedor, ao tempo em que se buscou verificar se os bibliotecários atuantes no mercado de Salvador apresentam estas características. Procurou-se contextualizar a concepção de empreendedorismo, analisando o atual cenário econômico nacional e global, que se configura pela transição da economia gerencial para a economia empreendedora, responsável pelas mudanças nas relações produtivas e nas formas de trabalho e na qual o espírito empreendedor é um forte componente, exigindo mudanças no perfil e valores do trabalhador. A fundamentação teórica alicerçou-se em algumas correntes ideológicas sobre empreendedorismo, como Schumpeter, Dolabela e Sebrae. Para a coleta de informações sobre a realidade concreta no universo em análise, elaborou-se pesquisa de campo, com entrevista estruturada com bibliotecários que atuam como autônomos na cidade do Salvador e, na modalidade de estudo de caso, analisou-se o currículo do Curso de Biblioteconomia e Documentação do Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia. Os dados foram analisados e confrontados com a concepção emanada da literatura estudada, tendo-se verificado que o mercado de Salvador é um campo de trabalho potencialmente favorável a atividades empreendedoras no campo da Biblioteconomia, embora haja poucos bibliotecários atuando como empreendedores. Constatou-se também que o currículo estudado não tem nenhum componente curricular dedicado à teoria ou à prática empreendedora, ou que incentive a formação de atitude empreendedora. A expectativa do estudo é alertar os bibliotecários e os estudantes de Biblioteconomia para a emergência de assumirem uma postura empreendedora, buscando aumentar o nível de empregabilidade e ainda despertar os cursos de Biblioteconomia no Brasil para o significado estratégico de adotarem um eixo didático-pedagógico voltado ao florescimento da cultura e do senso empreendedores no alunado, preparando-os para enfrentar o mercado de trabalho com mais autonomia e confiança. Conclui-se sugerindo a adoção de políticas informacionais e práticas pedagógicas que introjetem no indivíduo o senso empreendedor, favorecendo o florescimento no país da cultura empreendedora, na expectativa de ampliação do nível de empregabilidade.

 

Palavras-chave: Empreendedorismo; Biblioteconomia – mercado de trabalho; formação empreendedora; bibliotecário empreendedor – perfil; bibliotecário empreendedor – Salvador.

 

 

1  INTRODUÇÃO

Até o final dos anos 70, os únicos sustentáculos econômicos, considerados realmente relevantes para a sociedade, eram o Estado e as grandes empresas. Portanto, o emprego ainda assumia valor fundamental para os indivíduos, que se preocupavam com o termo “empregabilidade”, porém não no sentido atual da palavra, mas, sim, no sentido da própria ”cultura de trabalho” do indivíduo, ou seja, a concepção de que o emprego, mesmo que assalariado, era a melhor garantia na vida. Dolabela (1999, p.58) chama isso de “síndrome do empregado”, que ainda existe em muitas pessoas, mesmo após toda essa mudança da ordem econômica.

No contexto da economia tradicional, ser empregável era o que verdadeiramente importava. A conquista do emprego de carteira assinada significava, para a maioria da população brasileira, estabilidade financeira e segurança profissional. Ainda prevaleciam os velhos moldes da relação empregado versus empregador, surgidos a partir do advento do sistema capitalista e reforçados com a abordagem taylorista da divisão do trabalho: existia o patrão ou o líder, o qual  comandava, e os empregados, os quais eram comandados.

A partir dos anos 80, uma conjunção de fatores, com destaque para a automação e a aplicação intensiva do conhecimento às formas de produção, favorece o aumento da produção e leva à redução dos postos de trabalho. Instala-se, assim, um novo paradigma tecno-econômico, que transforma o mundo do trabalho e delineia um modelo de organização econômica baseado no empreendedorismo, ou seja, no auto-gerenciamento da carreira profissional. Então, no final do século XX, começa a ganhar força o conceito de economia empreendedora, que, associado às demais implicações da Era do Conhecimento, faz emergir novas tendências de trabalho e a valorização do profissional criativo, inovador e capaz de trabalhar para si mesmo, em pequenos negócios, ou até mesmo no ambiente de sua própria casa.

É em função desse novo cenário socioeconômico em consolidação no mundo atual, que se justifica a importância desse trabalho, dedicado a analisar a cultura empreendedora na atuação do bibliotecário e que, apesar de ser um tema bastante atual e amplamente discutido no mundo todo, tem sido pouco enfocado dentro do contexto da Biblioteconomia.

O objetivo é compreender a estrutura da economia emergente no mundo atual, suas tendências e exigências em relação ao trabalhador e, assim, desvendar as características da cultura empreendedora, verificando sua favorabilidade no âmbito da profissão de bibliotecário, no que tange a sua formação, de modo a identificar as competências e habilidades necessárias para que ele se torne um empreendedor.

  Pretende-se, também alertar os cursos de Biblioteconomia no Brasil para a importância de desenvolver atividades acadêmicas, que induzam o comportamento e a cultura empreendedores nos alunos, preparando-os para enfrentar autonomamente o mercado de trabalho, onde o que vale são competência, conhecimento diversificado e habilidades múltiplas. Procura-se, também, despertar na classe bibliotecária, ainda muito dependente do emprego público e assalariado, o espírito empreendedor, que, em meio ao atual cenário de instabilidade, tem possibilitado novas oportunidades de trabalho. “Estar antenado nas perspectivas e experiências desse mercado é um passo importante e possível. Analisar constantemente as tendências é um meio de não ser pego de surpresa”. (CABRERA, 2000, p.6).

Então, por que não mudar os conceitos do profissional bibliotecário em relação ao mundo do trabalho? Por que não oferecer a este profissional subsídios que lhe permitam conhecer a gama de possibilidades que surgem para quem investe em uma carreira empreendedora? Obviamente que nem todos irão se tornar empreendedores, mas certamente esse trabalho induzirá o bibliotecário à reflexão sobre a necessidade de desenvolver um comportamento proativo e autônomo que o torne mais seguro na competição no mercado de trabalho.

Quanto à metodologia foram executados os seguintes passos:

 Foi levantada a fundamentação teórica pertinente ao tema, abordando-se os seguintes tópicos: análise do cenário econômico atual e dos fatores que impulsionaram a sua formação; conceituação de empreendedorismo; delineamento do perfil do bibliotecário empreendedor e das suas competências.

            Aplicou-se pesquisa de campo, com o fim de coletar as informações primárias, que deram subsídios para uma análise qualitativa sobre o comportamento do empreendedorismo entre os bibliotecários que atuam como autônomos, consultor e prestador de serviço; e conhecer as perspectivas do mercado empreendedor na cidade do Salvador; conforme a visão dos entrevistados; a amostra foi intencional, pois o público participante foi predeterminado, considerado-se sua condição de empreendedor,  por atuar autonomamente como consultor e prestador de serviço. Aplicou-se uma entrevista estruturada, com 12 perguntas.

Fez-se estudo de caso com o Curso de Biblioteconomia e Documentação do Instituto de Ciência da Informação da UFBA, analisando-se o currículo em vigor, a fim de verificar a existência de conteúdos sobre empreendedorismo.

As informações coletadas foram submetidas à análise qualitativa, que depois de sistematizadas e confrontadas com o referencial teórico, confirmou a hipótese de que há uma tendência muito forte do empreendedorismo para o campo da Biblioteconomia e Documentação e que o mercado tem sido cada vez mais favorável para aqueles bibliotecários que já trabalham por conta própria, de forma autônoma, dinâmica e proativa; é por esse motivo que se faz necessário que as instituições de ensino superior elaborem políticas educacionais para enfocar o tema empreendedorismo e dessa forma, induzam, no alunado, a cultura empreendedora.

 

2 A ECONOMIA EMPREENDEDORA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

 

O termo empreendedorismo, conforme Dolabela (1999), vem da palavra francesa entrepreneur. A literatura afirma que o primeiro a definir empreendedor foi Marco Pólo, que o designou como um aventureiro que assumia papel ativo, correndo riscos físicos e emocionais. No século XVIII, devido ao início da industrialização, estabelece-se então, uma diferença entre o capitalista, aquele que oferecia o capital, e o empreendedor, aquele que assumia riscos. Mas o termo só evoluiu a partir dos anos 80, mediante estudos aprofundados de duas correntes de pensadores, que utilizaram os princípios de suas próprias áreas de interesse para construir o conceito: – os economistas, que associaram o termo ao contexto empresarial, na qual a visão de empreendedorismo limita-se à função do proprietário de uma empresa; – e os comportamentalistas, que enfatizaram os aspectos comportamentais, como a criatividade e a intuição para tentar entender o que leva uma pessoa a empreender.

 Na primeira corrente, destacam-se Joseph Schumpeter (DOLABELA, 1999), que deu projeção ao tema, associando-o ao conceito de inovação e desenvolvimento econômico. Para ele, empreendedorismo é o “motor” da economia, capaz de desencadear o crescimento econômico do país; e Jean Baptiste Say (DOLABELA, 1999), que via o empreendedorismo como um agente de mudanças.

Na segunda corrente, destacam-se o historiador, sociólogo e economista Max Weber e o psicólogo David MacClelland (DOLABELA, 1999).

Weber buscou respostas nos traços pessoais e nas atitudes dos indivíduos, recorrendo aos sistemas de valores para explicar o empreendedorismo. MacClelland considerou que um povo estimulado por certas influências desenvolve capacidades para sua auto-realização. Definiu então os empreendedores como pessoas com grande necessidade de realização.

A visão contemporânea de empreendedorismo pressupõe a qualificação do trabalhador. Na concepção de Carland e outros (199? apud SOUZA, 2001, p.32), “o empreendedorismo está vinculado ao conceito de competência, pois a formação do empreendedor passa pela aquisição de conhecimentos, habilidades, experiências, capacidade criativa e inovadora”.

Já segundo Dolabela (1999, p. 44), “ser empreendedor não é somente uma questão de acúmulo de conhecimento, mas a introjeção de valores, atitudes, comportamentos, formas de percepção do mundo e de si mesmo[...]”. A palavra “empreendedor” é utilizada por ele para designar aquele que se dedica à geração de riquezas, seja na transformação do conhecimento em produtos e serviços, seja na geração do próprio conhecimento.

Na visão do Sebrae, o empreendedor é visto como o “indivíduo que possui ou busca desenvolver uma atitude de inquietação, ousadia e proatividade na relação com o mundo, condicionada por características pessoais, pela cultura e pelo ambiente, que favorece a interferência criativa e realizadora, no meio, em busca de ganhos econômicos e sociais”.

O mundo do trabalho tem sofrido incontáveis mudanças ao longo dos tempos, no entanto nenhuma talvez, tenha exigido do indivíduo mudanças de perfil e valores tão grandes quanto as que exige o atual cenário econômico nacional e internacional.

Falar, portanto, sobre o atual cenário econômico, marcado pelo surgimento de novas tendências de mercado onde o indivíduo é seu próprio patrão, implica necessariamente fazer uma análise dos fatores socioeconômicos e também tecnológicos que impulsionaram a transição de uma economia gerencial para uma economia empreendedora. Dentre os vários fatores intrínsecos que delinearam esse novo paradigma deve-se ressaltar aqueles que foram determinantes para esse acontecimento. Sendo assim, serão analisados: a evolução do conhecimento, a globalização da economia e a tecnologia da informação.

O conhecimento é a base para a consolidação da economia empreendedora na sociedade contemporânea, uma vez que integra o novo cenário econômico, modificando as relações produtivas e as formas de trabalho. Os modos de produção passam a ser baseados em conhecimento; a informação se torna um requisito para a sobrevivência e conseqüentemente o indivíduo que detém conhecimento está mais preparado para o mercado de trabalho.

 Para entender melhor essa assertiva, deve-se pensar que, no contexto da sociedade pós-industrial surge uma sociedade baseada em informação e conhecimento, a chamada Sociedade do Conhecimento, que alguns autores consideram como a Revolução do Conhecimento, na qual os principais grupos sociais são os trabalhadores do conhecimento, pessoas capazes de agregar valor ao trabalho e gerar inovação. De acordo com Kumar (1997, p. 21), a idéia central da Sociedade do Conhecimento é a evolução do setor de serviços e o rápido crescimento de oportunidades de emprego para profissionais liberais; essa evolução pode ser chamada de transição da economia gerencial para a economia empreendedora, a qual faz parte do atual cenário mundial.

O mundo globalizado da sociedade do conhecimento trouxe mudanças significativas ao mundo do trabalho. O conceito de emprego está sendo substituído pelo de trabalho. A atividade produtiva passa a depender de conhecimentos, e o trabalhador deverá ser um sujeito criativo, crítico e pensante, preparado para agir e se adaptar rapidamente as mudanças dessa nova sociedade. (SILVA e CUNHA, 2002, p.77).

Quando esse panorama econômico e social começou a se intensificar, prevaleceu nas empresas e indústrias aquele que obtinha um conhecimento aprofundado e técnico de todo o funcionamento e rotinas da instituição em que estava inserido, ou seja, resistiu aos cortes do quadro de funcionários o profissional que, ao longo de sua carreira dentro da empresa, adquiriu capital intelectual que justificasse seu cargo. Os demais sofreram as conseqüências dos impactos da intelectualização dos processos de trabalho e da tecnologização da produção e dos serviços, necessitando urgentemente, redefinir ou reconstruir seu perfil para recolocar-se no mercado.

Assim sendo, o aumento da competitividade, a reestruturação do trabalho e a exigência de um novo perfil são características inerentes ao atual cenário econômico mundial. Nesse contexto, o conhecimento tornou-se para o trabalhador uma ferramenta essencial, para manter-se competitivo, e isso ocorre não só porque o conhecimento sempre foi uma “arma” de sucesso para o bom profissional, mas principalmente porque tem sido o caminho de adaptação e preparação para esse novo cenário, uma vez que as formas de produção e serviços da sociedade produtiva atual estão fortemente baseados em conhecimento. Portanto, para atender às exigências desse mercado, é preciso recorrer a meios que lhe possibilitem adquirir ou até mesmo descobrir competências e habilidades que só são possíveis através da educação continuada, processo que proporciona a atualização do conhecimento e estimula o espírito empreendedor.

A educação continuada vem funcionando na verdade, como um recurso de sobrevivência para recém-formados, desempregados e empreendedores de todos os segmentos, pois de acordo com Cabrera (2000, p.1), “o mercado atual exige muito mais conhecimento do que experiência”, antigamente uma pessoa conseguia colocação no mercado pela experiência que obteve ao longo de sua vida profissional, hoje, no entanto, o conhecimento e as habilidades para lidar com determinada situação no mundo dos negócios são o diferencial; o conhecimento virou forte concorrente da experiência. Sendo assim, ampliar os conhecimentos por meio de treinamentos e cursos é vital para a ascensão profissional.

Sendo assim, pode-se dizer que o homem de hoje vive a emergência da economia empreendedora no âmbito da Era do conhecimento. Visto que, conforme Schumpeter (apud Dolabela, 1999), o empreendedorismo é “o motor da economia” e sem conhecimento, não se pode exercê-lo.

O advento da globalização da economia foi outro fator que determinou mudanças no panorama das relações de trabalho, pois representou “um fenômeno global com forças propulsoras de mudanças nas atividades sociais e econômicas. Toda a dinâmica e estrutura são alteradas em meio a uma era globalizante”. (SUDRÉ, 2002 apud SALEME, 2003, p.1.).

E foi em decorrência da globalização que houve, nos anos 70 a liberalização dos mercados e sua crescente integração e o acirramento da competitividade. Esses fenômenos causaram crises na economia e em conseqüência o aumento do desemprego, que deixou de ser cíclico para ser estrutural. Para Pochmann (2001, p.42),

[...] houve geração tanto de desemprego estrutural quanto de significativas alterações na composição ocupacional. Os trabalhadores que se mantiveram empregados, por sua vez foram os de maior escolaridade, maior tempo de serviço[...].

A globalização da economia corresponde a um fenômeno econômico com implicações políticas, sociais e também culturais, à medida que provoca grandes mutações no mundo do trabalho, reestruturando as formas produtivas e suas relações. O antigo modelo taylorista de racionalização do trabalho é substituído pela “acumulação flexível”, a qual provoca o deslocamento do emprego para o setor de serviços que se apóia fundamentalmente na flexibilidade das tarefas. O mercado globalizado cria novas imposições em relação ao trabalhador que se vê oprimido diante do desafio de adaptar-se a esse novo contexto, onde sobrevive quem tem senso inovador, criatividade e visão estratégica, ou seja, quem tem espírito empreendedor.

A globalização é, portanto, um processo que resulta em uma nova ordem social e econômica mundial, interferindo em todos os países devido à introdução de uma reestruturação produtiva, que é entendida como um conjunto de transformações que se supõe procuram melhorar a qualidade de produção e serviços, tendo como base modificações nas relações de trabalho.

No entanto, se o processo da globalização causou uma crise no emprego, em contrapartida levou o indivíduo a mudanças de conceitos e valores, que o ajudaram a dar ênfase à qualidade de vida, ao tempo disponível e à perspectiva para novas oportunidades que surgem graças a esse novo modelo de mercado, em que o emprego informal surge como solução para os abalos gerados pelo desemprego. Kanaane (1999, p.33), afirma que “[...] as mudanças na organização do trabalho levarão ao redirecionamento profissional, possibilitando o surgimento de atividades profissionais diferenciadas, de acordo com os segmentos de mercado e a demanda existente”.

A agregação do conhecimento tecnológico na força produtiva foi um outro fator determinante para o surgimento de novas tendências de mercado, inclusive da economia empreendedora, uma vez que a produtividade econômica cresce mediante a combinação de processos gerencias e tecnológicos.

Portanto, se a globalização impulsionou o desemprego estrutural, a inovação tecnológica não ficou por baixo, causando aquilo que a literatura chama de desemprego tecnológico ou estrutural, ou seja, aquele que é proveniente da substituição em larga escala do homem pela máquina, assim confirmado por Furlan (1998, p. 1), “A mão-de-obra viva, em larga escala, foi substituída pela automação e informatização”. A automação industrial, contraditoriamente, reduziu os postos de trabalho e aumentou a produtividade.

O trabalho, que antes se baseava na concepção e execução humana, representando uma integração, foi sendo fragmentado pela evolução tecnológica, que lentamente assumiu o lugar do homem nas industrias e nas grandes empresas. Com a informática, as mudanças acontecem com muita velocidade, afetando o tecido social que não tem tempo hábil, não só em termos econômicos, porque surpreende, modificando seu comportamento profissional.

A tecnologia não afeta as relações de trabalho apenas porque provoca a redução numérica de empregos, mas também porque muda diretamente a forma de execução do trabalho, passando a exigir novas competências do trabalhador.

No entanto, apesar da tecnologia também ter gerado desemprego, ajudou, e muito, àqueles que optam pelo trabalho autônomo ou informal, pois é uma ferramenta de trabalho eficiente e fundamental para quem deseja manter-se competitivo, até mesmo para quem trabalha em casa ou em pequenos negócios, uma vez que a tecnologia da informação é um elemento multiplicador do conhecimento, facilitando o compartilhamento de informações entre estudiosos, pesquisadores, colégios invisíveis, pessoas comuns; dando oportunidade de discussão, comunicação rápida, interação virtual; tudo isso em tempo real.

A tecnologia da comunicação é hoje um elemento multiplicador importante que permite a interligação mundial, reduzindo o tempo e a distância entre as organizações e seus mercados, fazendo com que qualquer movimento ou mudança sejam sentidos rapidamente em vários lugares ao mesmo tempo.

                                     (DIAS, 2000, p.15).

 Segundo Drucker (1998), a tecnologia possibilita o desenvolvimento econômico e produtivo da sociedade, pois “ela cria a visão para o espírito empreendedor e a inovação na comunidade”. Neste novo modelo de produção baseado em conhecimento e sustentado pelas tecnologias da informação, é necessário que o trabalhador saiba interagir com máquinas sofisticadas e inteligentes, pois, enquanto a máquina realiza o trabalho rotineiro, o trabalhador especializa-se com o controle do software em sistemas informatizados. O trabalhador do conhecimento, como o próprio Drucker categorizou, tem que buscar a interação entre conhecimento técnico e gerencial e profissional, por meio do desenvolvimento de competências e habilidades inerentes à sua função. “Daí a permanente necessidade de requalificação do trabalhador, que, de outra maneira, pode ser excluído do mundo do trabalho”. Barbosa (2000).

De acordo com Burnham (2000, p.288),

este é o desafio que a Sociedade do Conhecimento tem de enfrentar, razão pela qual os processos educativos atuais voltam-se para o desenvolvimento integral do indivíduo, inclusive despertando sua capacidade empreendedora, para enfrentar um campo de trabalho autônomo, pois não há mais perspectiva de um mercado que absorva mão-de-obra em grande escala.

Assim, no contexto de todos esses acontecimentos, neste final de século, a realidade econômica tem feito surgir no brasileiro o espírito empreendedor. O emprego não é mais visto pelas pessoas como um projeto de vida. Elas estão percebendo que a maioria dos empregos propostos no mercado não preenche os requisitos necessários para quem deseja estabilidade. E mesmo sem saber por onde começar pensam em inserir-se no mercado como profissionais autônomos ou liberais. Moraes (2004, p.61) apresenta pesquisa feita recentemente pelo Sebrae (Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas), que revela que cada cinco paulistas pretendia iniciar ou possuía um pequeno negócio, o que comprova a forte tendência do empreendedorismo na sociedade atual.

A professora Kira Tarapanoff (2000) afirma que:

No modelo atual de sociedade não há lugar para o emprego, pelo menos não nos moldes da relação empregado versus empregador e que cada profissional é responsável por administrar sua própria carreira, em que o espírito empreendedor é um dos fortes componentes.

 

E ainda, ratificando este pensamento, Dolabela (1999, p. 33), considera que:

Este modelo, dirigido à criação de empregados para as grandes empresas já cumpriu sua missão. Esgotou-se, porém, diante das profundas alterações nas relações de trabalho e na produção. Ao ter seu eixo deslocado para pequenos negócios, as sociedades se vêem induzidas agora a formar empregadores, pessoas com uma  nova  atitude diante do trabalho e com  uma nova visão do mundo.

A formação de um mercado empreendedor gradativamente crescente é uma realidade vivida na atualidade. É inadiável reaprender a trabalhar para aproveitar as oportunidades.

No entanto, para aproveitar todas essas oportunidades é fundamental trocar as velhas concepções de trabalho, aquilo que Dolabela chama de a “síndrome do empregado”, que é conseqüência de uma cultura tradicional com exclusiva ênfase no emprego assalariado, por um novo jeito de pensar e agir - trabalhar por conta própria, enfim, investir em um mercado empreendedor.

Minarelli (2001, p. 15), afirma: “trabalhar por conta própria é uma alternativa cada vez mais presente no mercado. Aliás, é a opção que mais cresce, em contraposição ao emprego tradicional com carteira assinada, que vem diminuindo no mundo inteiro, inclusive no Brasil”.

Reis (1998) apresenta dados do IBGE que mostram a relação entre os trabalhadores com carteira de trabalho assinada (7.632 mil), os sem carteira assinada (4.002 mil) e aqueles que trabalham por conta própria (3.821 mil) nas principais cidades do Brasil. Ao fazer a soma dos que trabalham sem carteira assinada e por conta própria, percebe-se que trabalhadores com carteira assinada são em menor número. Comprova-se, então, que o trabalho informal tem crescido extraordinariamente e por outro lado o número de emprego formal diminuiu.

Embora o termo empreendedorismo tenha sido reverenciado ao longo do tempo por muitos estudiosos, nas últimas décadas começou a ganhar interesse maior. Hoje tem atingindo um crescimento inesperado, tornando-se uma opção promissora para pessoas desempregadas e jovens recém-formados, principalmente no Brasil. A Revista Empreendedor (set. 2003, p. 3), apresenta uma pesquisa feita em 37 países, que revela que o Brasil figurou no 7° lugar no ranking dos países com maior nível geral de empreendedorismo. Timmons (199? apud DOLABELA, 1999, p.53), fala que essa transição será para o século XXI mais do que a Revolução Industrial foi para o século XX.

Diante desse cenário, conclui-se que o bibliotecário é um profissional que também precisa estar atento para as perspectivas e tendências das novas oportunidades de trabalho que surgem a partir da economia empreendedora. Segundo Valentin (2002, p.109), “O profissional da informação precisa estar em sintonia com esta realidade e se readequar para enfrentar mudanças cada vez maiores”, pois a capacidade de descobrir oportunidades e combiná-las, se possível, com seus conhecimentos e recursos pessoais é uma qualidade indispensável para quem deseja manter sua empregabilidade.

 

3         FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA O EMPREENDEDORISMO

 

O debate acerca da formação profissional tem sido intenso nas últimas décadas. Hoje, porém, uma nova abordagem começa a ser defendida, pois diante de tantas mudanças no mundo do trabalho, a preocupação maior não é mais em formar para o emprego, mas sim formar para a empregabilidade. Para Barbosa (2000, p. 59), empregabilidade é “a capacidade de alguém manter-se empregado neste contexto em que a vertiginosa corrida tecnológica, decorrente do desenvolvimento da C&T, mas também estimulada com fins capitalistas , constrói e destrói consecutivamente métodos e processos de trabalho, ao tornar rapidamente obsoleto o conhecimento”.

No processo de trabalho atual, as tarefas tornaram-se mais indeterminadas, pois não podem ser mais pensadas a partir da perspectiva de um determinado posto ou função a ser ocupado, mas sim da exigência de um conjunto de qualificações para desenvolver uma gama variada de postos ou ocupações. Neise Deluiz (1996) chama esse novo processo de “qualificação real do trabalhador” que segundo ela é compreendido como “um conjunto de competências e habilidades, saberes e conhecimentos, que provêm de várias instâncias, tais como da formação geral (conhecimento científico), da formação profissional (conhecimento técnico) e das experiências de trabalho”.

Esse conjunto de competências amplia-se para além do conhecimento técnico, que ainda hoje é desenvolvido e aplicado em demasia por diversas instituições educacionais, universitárias principalmente. O problema em si não é com a aplicação da técnica de trabalho de cada profissão, essa é fundamental, mas sim com a questão de que essas instituições deixam de lado a preocupação com a formação empreendedora, concentrando-se apenas na formação técnica. Na visão de Daniel Magno, consultor da Profiler (empresa de gestão de carreiras), em entrevista para o jornal A Tarde (4, abr., 2004), “as faculdades desenvolvem bem o trabalho de preparar profissionais em suas respectivas áreas, mas não se preocupam em oferecer alternativas de orientação dos recém-formados sobre as maneiras de melhor desenvolverem suas carreiras”. Para o consultor, o problema das faculdades é não ensinar os estudantes a encararem a realidade, pois “continuam a jogar profissionais desorientados num mercado onde o emprego está sumindo”.

Esta constatação fortalece a idéia de que os atuais modelos de educação tecno-profissional, baseados nos moldes tradicionais, já se tornaram obsoletos e desnecessários, sendo preciso que se modifiquem urgentemente, adequando-se à formação do trabalhador e às imposições da Sociedade do Conhecimento.

“A educação terá que ser reinventada. Há vários indicadores que levaram nossa sociedade a perceber que não há como sobreviver numa economia globalizada e com exigências crescentes sem levar a sério a educação no Brasil”. (REIS, 1998, p.30).

Sendo assim, cabe às escolas, às universidades e aos centros de formação profissional, realizarem um modelo de educação que gere o trabalhador polivalente, moldado para a competitividade e apto às mudanças. Nessa perspectiva, é fundamental que essas instituições desenvolvam no indivíduo um manancial de competências e de habilidades voltadas para a gestão da cultura empreendedora. Ou seja, a formação para o novo século tem a obrigação de associar a técnica com a aplicação da visão empreendedora.

O campo de estudo acadêmico sobre empreendedorismo ainda é muito recente. Somente a partir dos anos 80 é que se formaram os primeiros doutores em empreendedorismo.

Os primeiros cursos sobre empreendedorismo foram planejados e ministrados por Peter Drucker e ocorreram em 1953 em Nova York. O primeiro Congresso Internacional foi realizado em 1973 no Canadá, na cidade de Toronto.

No Brasil, a primeira iniciativa na área educacional sobre o empreendedorismo  ocorreu em 1981 e foi da Escola de Administração de empresas da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Seu curso chamava-se “Novos negócios” e era uma disciplina para os cursos de especialização em Administração. Somente depois de três anos o curso foi estendido para os alunos de graduação e chamava-se “Formação de empreendedores”. Em 1984, o Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por intermédio de professor Newton Braga Rosa, instalou a primeira disciplina de ensino de criação de empresas para o curso de Ciências da Computação. No ano de 1985, a Universidade de São Paulo(USP) começou a se preocupar com o tema e o introduziu em disciplinas do currículo do curso de graduação e pós-graduação em Administração. Em 1992, a Faculdade de Economia da USP, colocou em prática a idéia de oferecer um programa de formação de empreendedores para a comunidade e a Universidade Federal de Santa Catarina criou a ENE (Escola de Novos Empreendedores), que se tornou um dos maiores projetos universitários de ensino de empreendedorismo no Brasil. Deve-se dar destaque a atuação da UNB (Universidade de Brasília) que criou em 1995 a Escola de Empreendedores, que mantêm suas atividades até hoje. Nessa mesma época algumas universidades nordestinas, inclusive a Universidade Federal de Pernambuco, também implantaram nos currículos acadêmicos, disciplinas para a área de empreendedorismo com o intuito de praticar o ensino nesse setor.

Nas universidades baianas, deve-se dar destaque, na graduação, ao curso de Administração da Faculdade de Tecnologia Empresarial (FTE) e aos cursos de Administração e Engenharia Civil da Universidade Católica do Salvador (UCSAL), que oferecem disciplinas sobre empreendedorismo em vários níveis. O curso de Administração da UFBA inclui a disciplina optativa “Gestão de Pequenas e Médias Empresas” e o curso de Ciências Contábeis tem em sua matriz curricular a disciplina optativa “Jogos de Negócios”. Abordando o tema específico “empreendedorismo”, a UFBA oferece, na modalidade de Atividade Com Comunidade (ACC), a disciplina “Empreendedorismo em comunidade” para os cursos de graduação em Economia, Ciências Sociais, Administração e Ciências Contábeis. As disciplinas enquadradas como ACC têm como singularidade o fato de articularem atividades que envolvem o alunado da UFBA e a comunidade em geral ou uma comunidade específica. A ACC Empreendedorismo em Comunidade objetiva o “Processo de construção conjunta de conhecimento, envolvendo acadêmicos e empreendedores na busca de soluções para problemas de micro e de pequenos negócios e empreendimentos informais de uma comunidade escolhida”. A Universidade Salvador (UNIFACS) ministra, em todos os seus cursos seqüenciais, disciplinas que enfocam o tema empreendedorismo. Estas universidades têm também empresas juniores, com o objetivo de desenvolver o espírito analítico, crítico e empreendedor do alunado, por meio da vivência profissional, quando os estudantes têm a oportunidade de aplicar na prática os conhecimentos teóricos aprendidos em sala de aula.

 Ainda há muito que se questionar sobre a necessidade do fortalecimento da cultura empreendedora porque muitas universidades e instituições ainda não se comprometeram em efetivar o ensino do empreendedorismo, sobretudo na graduação e as que o fazem, vêm dando ênfase às áreas de Administração, Economia, Engenharia e Contábeis.

No entanto, a Rede de Empreendedorismo da Bahia, um projeto em que são parceiros a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia, através da Fundação de Amparo à Pesquisa, o IEL e o Sebrae,  vem estimulando a inclusão da cultura empreendedora nos cursos de graduação e pós-graduação, por meio de financiamento a projetos para criação de disciplinas ou cursos e de incubadoras de empresas. A estimativa da Rede é que sejam criados, em média, 20 cursos sobre empreendedorismo, para alunos de graduação e pós-graduação, dentro de breve espaço de tempo.

Dolabela(1999, p. 62) reitera: “A universidade é o ponto de partida, porque ela é uma fonte formadora de opinião e multiplicadora do saber. Mas é preciso disseminar a cultura empreendedora desde o primeiro degrau do sistema educacional[...]”

O consultor Carlos Tasso E. de Aquino (2002) em seu artigo “Empreendedorismo: sexto sentido afirma que as práticas pedagógicas do ensino colocam uma camisa de força no indivíduo, tolhendo a sua a criatividade. Portanto, a formação do comportamento empreendedor deve ser contínua, pois a interiorização de uma cultura, isto é, um comportamento é processual. Neste sentido, a formação voltada ao empreendedorismo não pode se restringir ao ensino superior, na verdade, deve integrar a concepção da educação básica, para que o indivíduo desenvolva o hábito de saber agir por si próprio, com autonomia.

Embora muitos profissionais, especialmente o bibliotecário, cujas funções estão intimamente ligadas à educação e a C&T, áreas no Brasil fortemente tuteladas pelo Estado, ainda estejam atrelados ao emprego público e assalariado, o Brasil já conta com iniciativas para a consolidação de projetos educacionais na área do empreendedorismo. Instituições como o Sebrae(Serviço de Apoio à Micro e Pequenas Empresas) e o IEL (Instituto Euvaldo Lodi) têm papel decisivo nesse processo, pois dedicam grande interesse a esta área através de projetos que apóiam o profissional liberal e o desenvolvimento de pequenas empresas e até mesmo a academia.

O Sebrae é uma entidade sem fins lucrativos, que trabalha desde 1972 em projetos que visam a aplicação da cultura empreendedora e o desenvolvimento sustentável de empresas de pequeno porte. Hoje, porém, sua política de formação de empreendedores se tornou mais forte para se alinhar ao atual cenário econômico global e nacional que está focado na economia empreendedora para a formação de bens e riquezas. Atua em 26 estados brasileiros promovendo cursos de capacitação profissional, palestras e feiras sobre negócios. Dessa forma, procura contribuir para a geração de trabalho e renda no país.

O Sebrae acredita que a educação é um fator determinante para o futuro das pessoas, que precisam aprender a sobreviver em uma sociedade em constante mudança, e buscar cada vez mais, através de mecanismos de capacitação e mobilização, um ambiente favorável à disseminação da cultura empreendedora. Nesse sentido, criou a (UEDCE) Unidade de Educação e Desenvolvimento da Cultura Empreendedora, um serviço de ações educativas, oferecendo oportunidades de evolução profissional a partir da aplicação de educação continuada voltada para o potencial empreendedor.

O IEL vem desenvolvendo um programa de estímulo ao empreendedorismo nas instituições de ensino superior em regiões da Amazônia, Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Rio de Janeiro entre outras. O objetivo central do programa é estimular discussões sobre o tema através da implantação de disciplinas que enfoquem essa questão em currículos de diversos cursos. O programa “ensino universitário de empreendedorismo” fornece todo apoio logístico e ainda patrocina cursos para professores universitários que desejam implantar nos seus cursos, disciplinas que abordem o empreendedorismo. Segundo dados do IEL, os cursos que mais capacitam professores através desse projeto são: Administração, Ciências da Computação, Ciências contábeis, Economia e as Engenharias.

Apesar de algumas instituições de ensino superior já terem despertado para a questão do estímulo ao empreendedorismo, a prática da educação empreendedora ainda não é generalizada, quando, na verdade deveria integrar a filosofia da educação desde o ensino fundamental.

Para incentivar a absorção de atitudes empreendedoras no nível universitário, a universidade precisa inserir a cultura empreendedora em suas políticas educacionais, privilegiando o ensino de conteúdos e a aplicação de métodos didáticos, voltados ao desenvolvimento de competências e habilidades próprias do espírito empreendedor.

De acordo com a professora Kira Tarapanoff a sociedade pós-industrial, ou seja, a Sociedade do Conhecimento, propicia o surgimento de profissões que lidam com informação. Segundo ela, o atual mercado demanda profissionais liberais, técnicos, cientistas, profissionais da informação, gestores do conhecimento e da tecno-estrutura. Sendo assim, algumas escolas de ensino superior, assim como a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) estão oferecendo cursos de graduação em áreas antes inexistentes, como engenheiro da informação e engenheiro de infra-estrutura. Nesses cursos incluem-se disciplinas como: empreendedorismo e gestão do conhecimento.

 

4 O BIBLIOTECÁRIO-EMPREENDEDOR

 

Refletir sobre a formação profissional do bibliotecário empreendedor, sua atuação no setor de serviços e consultoria e suas perspectivas no mercado atual é o objetivo desse trabalho.

A evolução da ciência e da tecnologia e do atual modelo econômico provoca mudanças no mundo do trabalho que são tão rápidas e com tantas conseqüências diretas na vida profissional do indivíduo, que acabam afetando mais fortemente o universo do “saber ser”, “saber fazer”, “saber conhecer” e do “saber relacionar-se”, que são os quatro pilares estabelecidos pela UNESCO para a educação do século XXI. É para este contexto que os bibliotecários precisam estar preparados para atender às exigências do mercado globalizado e aproveitar as possíveis oportunidades que surgem em seu campo de trabalho.

As constantes mudanças no mundo do trabalho têm alterado fortemente o perfil do trabalhador, portanto segundo Passos (2004, p. 39),

urge que os profissionais da informação, ou seja, arquivistas, museólogos, documentalistas, bibliotecários e outros profissionais ligados à informática e as tecnologias da informação e das telecomunicações, incorporem rápida e eficientemente este novo mundo [...] O desafio será: novo perfil profissional ou permanecer com visão antiga e ser fadado ao insucesso.

A utilização eficaz da informação e do conhecimento tornou-se a “arma” para o bom desempenho profissional e para a manutenção da competitividade. Para que o bibliotecário possa atuar com qualidade em qualquer um dos segmentos que serão mencionados mais à frente e ao mesmo tempo poder competir com o mercado de profissionais empreendedores é necessário desenvolver um perfil adequado que possa condizer com as imposições da sociedade contemporânea. Segundo Silva & Cunha (2002, p. 77), o profissional só “será valorizado na medida de suas habilidades para estabelecer relações e de assumir liderança”. Sendo assim, o bibliotecário-empreendedor deve ser criativo, flexível, inovador e ter visão do negócio em que atua, além de dever estar sempre sensibilizado para a necessidade de atualização permanente, no que tange ao conhecimento e às técnicas e métodos de trabalho.

A seguir destacam-se as competências definidas pela Special Libraries Association (TEIXEIRA E OUTROS, 2002) para o bibliotecário especializado do século XXI, que também se enquadram no perfil do bibliotecário empreendedor:

·   Ter conhecimento dos conteúdos das fontes de informação, incluindo a habilidade de avaliá-las criticamente e filtrá-las do ponto de vista de utilidade e relevância para seu cliente; ser dotado de pensamento estratégico, para efetuar, com segurança, a seleção e análise da informação de interesse da organização, empresa, ou pessoa;

·        ter conhecimento subjetivo especializado apropriado para o negócio da organização ou do cliente (por exemplo, conhecimento de finanças, gerência, ou outros assuntos relacionados com a missão da empresa);

·        saber elaborar plano estratégico de ação afinado com os objetivos do cliente ou da organização para qual presta serviço e saber elaborar pesquisas simples, intermediárias e complexas, analisando e sintetizando as informações levantadas;

·        saber levantar, avaliar e elaborar planos para atender as necessidades de informação da organização (por exemplo, identificar e avaliar informações para os grupos de projetos);

·        saber usar a tecnologia da informação apropriada para adquirir, organizar e disseminar a informação, por exemplo, selecionar software e hardware adequados, juntamente com uma equipe de informática, para disponibilizar serviços de intranet da organização.

 

5        VISÃO DOS PROFISSIONAIS ENTREVISTADOS SOBRE A CULTURA EMPREENDEDORA NO ÂMBITO DA PROFISSÃO DE BIBLIOTECÁRIO

 

Este capítulo apresenta a análise, avaliação e resultados da entrevista aplicada como instrumento de pesquisa de campo para coleta de informações primárias sobre a prática do

 

 empreendedorismo no âmbito da Biblioteconomia.

Segundo o Conselho Regional de Biblioteconomia, 5ª Região, (CRB–5), há mais de 800 bibliotecários atuando no mercado de trabalho na Bahia e Sergipe. A população pesquisada foi constituída de 21 profissionais bibliotecários. O número reduzido se justifica pela intencionalidade de escolha da amostra, que se baseou no fato desses profissionais, de alguma forma, já terem realizado trabalho como autônomos. Do universo de 21 bibliotecários contactados, onze responderam à entrevista, sendo que um deles não se considerou empreendedor e, portanto não perseverou nos outros enunciados, porque esta era a condição requerida. Abaixo apresenta-se a análise da entrevista aplicada, cotejando-se cada uma das questões.

- Enquadramento como bibliotecário empreendedor.

           Dez respondentes consideram-se empreendedores, porque trabalham proativamente,  empreendendo atividades como prestação de serviços e consultoria na área de informação e documentação.

- Tipos de serviços e atividades prestados.

A tabela abaixo demonstra as respostas dos entrevistados:

TABELA 1 – TIPOS DE SERVIÇOS E ATIVIDADES PRESTADOS

 

TIPO DE SERVIÇO

 

NÚMERO DE PROFISSIONAIS

Normalização de documentos científicos e técnicos

5

Procesamento técnico

1

Catalogação

1

Organização de arquivos

2

Organização de bibliotecas

4

Organização de acervos particulares

1

Pesquisa

1

Digitalização de documentos

1

Implantação de centros de documentação

4

Estudo de viabilidade do mercado

1

Gestão documentária

1

Gestão empresarial

1

Elaboração de projetos

1

Disseminação de informação

1

Automação de bibliotecas

2

Cursos sobre normalização de textos

1

Assessoria em consulta à base de dados

1

Verifica-se que os tipos de serviços mais prestados pelos respondentes são: implantação de centros de documentação e normalização de documentos científicos e técnicos. Cabe destacar, que um dos respondentes chama a atenção para a expansão do número de cursos de graduação e pós–graduação, aumentando deste modo, a demanda pelo trabalho de normalização de monografias, teses e dissertações.

- Regime de trabalho.

Dos respondentes, quatro trabalham exclusivamente como autônomos. Os outros seis, apesar de atuarem como empreendedores, possuem vínculo empregatício com alguma empresa pública ou privada. No entanto, nenhum deles justificou o fato de manter um vínculo com uma empresa e não trabalhar exclusivamente com prestação de serviços. É interessante destacar, a atuação de dois entrevistados. Um deles é uma recém-formada que montou uma empresa há sete meses, a partir da apresentação de um projeto à Compete, uma incubadora de micro e pequenas empresas que funciona na Escola de Administração da  UFBA (Universidade Federal da Bahia) e tem como parceiros o Sebrae, o IEL e a própria UFBA. A outra, é a proprietária da  FOCO –  Empresarial Consultoria LTDA, uma empresa que estuda a carência do mercado em três segmentos básicos: gestão empresarial, gestão documental e treinamento.

- Competências mobilizadas na realização dos serviços prestados.

Para a realização de seus serviços, os respondentes mobilizam competências que estão apresentadas na tabela a seguir:

TABELA 2 – COMPETÊNCIAS MOBILIZADAS NA REALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS

Competência mobilizada

Número de profissionais

Conhecimento da área de atuação

6

Conhecimento da realidade socioeconômica

2

Conhecimento da organização contratante

1

Relacionamento interpessoal

3

Flexibilidade

2

Identificação com a área

2

Saber buscar a informação

1

Conhecimento de áreas afins

1

Predisposição para atualização permanente

1

Conhecimento gerencial

1

Rigor na qualidade do serviço

2

Agilidade na execução do trabalho

1

Conhecimento de sistemas de informação

1

Conhecimento de programação

1

Conhecimento de outra língua

1

 Capacidade de identificação das necessidades do cliente

1

Criatividade

2

Objetividade

1

 

Constata-se que a competência mais mobilizada pelos bibliotecários entrevistados é o conhecimento específico da área de atuação; sem ele não se pode exercer as atividades e funções da Biblioteconomia. Verifica-se também, que um deles falou sobre a importância de se conhecer os objetivos da organização ou empresa para a qual os serviços serão prestados, que é uma das competências relacionadas também pela Special Libraries Association, que foi enfocada no capítulo anterior.

- Competências e habilidades desejáveis

As competências que os entrevistados julgam desejáveis ao bibliotecário que atua, de modo autônomo, empreendendo suas atividades estão relacionadas na tabela a seguir:

TABELA 3 – COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DESEJÁVEIS

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES

NÚMERO DE PROFISSIONAIS

Conhecimento das tecnologias de informação

2

Conhecimento das ferramentas de trabalho

1

Predisposição para atualização permanente

3

Determinação

3

Cultura geral

2

Relacionamento interpessoal

2

Falar outro idioma

2

Proatividade

1

Domínio dos sistemas de informação

1

Conhecimento da área de atuação

1

Criatividade

1

Identificação com a área de atuação

1

Capacidade de decisão

1

Visão sistêmica

1

Visão estratégica

1

 

 Verifica-se que, das competências consideradas mais importantes para o exercício da atividade empreendedora, as mais citadas foram: determinação, cultura geral, conhecimento de outro idioma e conhecimento das tecnologias de informação.

- Como desenvolveu as competências e habilidades.

Sete pessoas responderam que as competências e habilidades que mobilizam e as que consideram importantes para a atividade empreendedora não foram desenvolvidas ao longo do curso de graduação em Biblioteconomia. Afirmaram também, que a graduação não deu uma visão global dos problemas reais das instituições e só a partir da experiência de trabalho e do exercício de funções diversificadas, é que puderam desenvolver essas habilidades. Inclusive, dois deles justificaram, ainda, que os conteúdos propostos pelo curso não abordam temas sobre negócios, economia e questões gerenciais. Uma pessoa considerou que, em parte, o curso de graduação possibilitou o desenvolvimento destas habilidades, mas que elas só foram ampliadas, consolidadas e renovadas com a experiência profissional. Duas pessoas  consideraram que sim, ou seja, que o curso contribuiu para o desenvolvimento de uma formação empreendedora, pois desenvolveu o conhecimento específico, propiciando a base técnica necessária para o desempenho da profissão.

- Necessidade de capacitação específica para a formação empreendedora.

Oito pessoas recorreram a cursos, treinamentos, conferências e eventos. Dentre esses treinamentos foram citados cursos sobre: legislação específica para negócios; negociação; motivação; informática; desenvolvimento de software; noções de contabilidade; leitura de temas gerenciais, de mercado e de negócios; cursos de especialização para a aprofundar a temática de interesse; além da participação em eventos para acompanhar a evolução tecnológica e o mundo dos negócios.

Dois afirmaram que não recorreram a nenhum treinamento ou curso que lhes proporcionassem habilidades e competências para o exercício de atividades empreendedoras, enquanto um dos respondentes citou também a necessidade de freqüentar ambientes culturais (cinema e teatro) como uma forma de “abrir a cabeça” e contribuir para a criatividade.

-Favorabilidade do mercado.

            Oito responderam que o mercado se encontra favorável para a prestação de serviços bibliotecários na cidade de Salvador. Três respondentes chamam a atenção para a questão de que ainda há uma visão estreita sobre a importância das atividades ligadas à informação no âmbito empresarial, mas que por outro lado o estado da Bahia está em crescimento, apresentando uma potencialidade para serviços dessa natureza. Dois deles disseram que o mercado ainda é restrito; também falaram sobre a atuação do bibliotecário no mercado, que ainda é muito tímida em decorrência de sua própria formação e do entorno socioeconômico e cultural. Os demais (cinco), justificaram que desde que o profissional esteja capacitado, tendo uma visão geral do mercado e dos processos e ferramentas requeridos para o exercício da profissão, ele terá oportunidade de atuação porque o mercado está cada vez mais “aberto”.

- Quantidade de serviços prestados.

Uma pessoa respondeu que presta de um a dois serviços por ano. Três afirmaram que realizam de quatro a cinco. Outra realiza cerca de 20 trabalhos. Três realizam vários. Um respondeu que presta 3 por mês. Um respondeu que realiza três por ano.

Aqueles que responderam que realizam de dois a cinco serviços por ano, são pessoas que têm outra forma de remuneração (vínculo empregatício). Dos três respondentes que  realizam vários trabalhos, dois disseram que o número de oportunidades que surgem é tão grande que às vezes precisam abdicar de alguns serviços por falta de tempo disponível. Um é um microempresário e não pôde quantificar por uma questão de sigilo. O respondente que realiza três atividades por mês é também um microempresário e observa que sua empresa tem apenas sete meses e por isso ainda não houve tempo de uma divulgação maciça de seus serviços.

- Possibilidade de sobrevivência como bibliotecário-empreendedor.

Sete responderam que há possibilidade de viver-se apenas como empreendedor, prestando serviços na área de biblioteconomia e documentação. Três responderam que ainda não. Aqueles que disseram que é possível sobreviver como bibliotecário-empreendedor, justificam pela procura constante de serviços, mas um deles chama a atenção para a questão da mentalidade do empresariado em relação à não-valorização dos serviços de informação. Dois, apesar de ter respondido afirmativamente, fazem a ressalva de que isto só é possível se o bibliotecário tiver visão e competência profissional para realizar os serviços com qualidade, porque clientes satisfeitos recomendam seus serviços a outros, propagando suas atividades. Dentre os que responderam negativamente, um reconhece que é possível encontrar serviços que demandariam anos de trabalho.

- Sugestões dos entrevistados para os cursos de Biblioteconomia.

Os entrevistados sugerem que o currículo de Biblioteconomia tenha enfoque multidisciplinar, contemplando áreas afins como Arquivologia, informática, conhecimento de legislação social e trabalhista e empreendedorismo, reforçando o conhecimento teórico-prático da área de documentação; reforço em teoria e prática de projetos, enfocando temas como: captação de recursos, orçamento e avaliação, como também, promover palestras, cursos e eventos com empresários e consultores, desenvolvendo atividades práticas ligadas à criação, desenvolvimento e gerenciamento de empresas, como por exemplo, o incentivo à criação de empresas juniores, que venham a induzir, no alunado, o espírito empreendedor. Um deles ainda sugere que o curso de graduação não deveria apenas formar bibliotecários com conhecimento técnico apurado, mas também propiciar-lhes um bom lastro cultural, além do estudo obrigatório de inglês.

- Conselhos aos estudantes.

Os respondentes aconselham que o aluno busque ao longo do curso o desenvolvimento de uma visão de aplicabilidade de cada conhecimento adquirido, o desenvolvimento de conhecimentos gerais e específicos de sua área, fluência verbal, leitura constante de assuntos correlatos à profissão, desenvolvam habilidades de relacionamento interpessoal e trato pessoal, conhecimento de línguas, pelo menos inglês, flexibilidade e dinamismo, domínio das tecnologias de informação, ética profissional, determinação, perseverança, estar atento a questões políticas e econômicas, assistir a bons filmes e participar de conferências para adquirir cultura geral, reconhecimento de seus limites, mas com disposição para transpô-los, com conhecimento e desenvolvimento de habilidades necessárias, buscando o apoio de pessoas mais experientes, além de procurar estar propenso a mudanças, ou seja desenvolver a habilidade de adaptação ao ambiente de mudanças. Além disso, sugerem também, que os estudantes busquem a informação em órgãos como o SEBRAE, assistindo a palestras e cursos sobre empreendedorismo e sua relação com o mercado de trabalho.

 

6        O CURSO DE BIBLIOTECONOMIA DO ICI – UFBA

 

De acordo com Dias (2002, p.11), a base curricular é um aspecto importante para a formação profissional e conseqüentemente tem um peso preponderante para a definição de competências e o esforço de formar pessoas mais autônomas, flexíveis e capazes de engajar-se em atividades empreendedoras. Sob esta ótica, realizou-se análise acurada da matriz curricular do curso de Biblioteconomia e Documentação do Instituto de Ciência da informação – ICI, da UFBA no sentido de verificar se o curso oferece conteúdos que sinalizem para o empreendedorismo.

Após análise do currículo, constatou-se que não há componente sobre essa questão. Outro aspecto também observado é que a própria política e objetivos do curso não prevêem a formação de profissionais com perfil empreendedor, ou seja, não há o estímulo à formação de profissionais autônomos, que visem atuar no mercado por iniciativa própria. Na matriz curricular há três disciplinas que abordam aspectos gerencias e de liderança para o bibliotecário, que são competências essenciais para o desempenho gerencial do profissional; há ainda uma disciplina optativa sobre qualidade em unidades de informação, que, aborda princípios e técnicas sobre qualidade e que tangencia uma temática relacionada com o desenvolvimento de habilidades necessárias ao bom desempenho profissional.

 

7        DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

 

Ao analisar as informações coletadas nas entrevistas, percebe-se que a visão dos entrevistados, em muitos pontos coincide com a concepção de empreendedorismo emanada da literatura, sobretudo no que tange às teorias de Schumpeter, Dolabela e do Sebrae. Por exemplo, as atividades que estes exercem como autônomos são encontradas na literatura levantada. As competências e habilidades citadas por eles como requisito para o exercício da atividade empreendedora pelo bibliotecário, também estão relacionadas na literatura, principalmente na categorização da Special Libraries Association, na qual pode-se identificar muitas das respostas dos entrevistados.  A maioria dos respondentes também afirma a favorabilidade do mercado empreendedor, confirmando assim, o pressuposto de que, desde que o profissional esteja capacitado do ponto de vista gerencial e técnico, o mercado lhe “abrirá as portas”.

Quanto à análise do curso de graduação em Biblioteconomia e Documentação do ICI/UFBA, vale ressaltar que nenhum destaque é dado ao tema empreendedorismo, quer nos conteúdos, quer nas práticas pedagógicas abordadas. E embora tenha-se distinguido  disciplinas de cunho gerencial, é importante ressalvar que elas não abordam intencionalmente o tema empreendedorismo e, portanto, deste modo o curso não desperta o alunado para a necessidade de se preparar para atuar de forma autônoma no mercado, criando assim uma visão e uma cultura empreendedora.

 

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A pesquisa desenvolvida em fontes primárias (pesquisa de campo) e secundárias (literatura pertinente), apesar de baseada em uma pequena amostragem, indicou que a economia empreendedora está crescendo cada vez mais na sociedade atual, não só para as outras profissões como também para área da Biblioteconomia, e por isso é importante que a instituições de ensino superior no Brasil procurem incentivar os estudantes para a formação empreendedora, não se preocupando apenas com a formação tecno-profissional, que apesar de fundamental não pode ser exclusiva. É preciso que o ensino superior fortaleça os conteúdos teóricos sobre empreendedorismo, aplicando-os e contextualizando-os com atividades técnicas e exemplos da realidade, de modo a incentivar a aprendizagem e a introjeção de habilidades e atitudes que desenvolvam a criatividade, o senso crítico e a autonomia dos alunos, de modo a formar comportamentos proativos, dinâmicos, flexíveis e empreendedores. Apesar da necessidade de se adequar ao novo cenário socioeconômico e de, obrigatoriamente, ter-se de alinhar à realidade do mundo do trabalho, os cursos superiores não podem se limitar a formar o aluno para o mercado, mas sim lhe propiciar um bom lastro cultural, científico e autogerencial, para atender às demandas da sociedade como um todo, inclusive o setor produtivo. A universidade tem o dever de desenvolver todas as potencialidades do sujeito, tornando-o emancipado e livre, para, em sua plenitude como indivíduo, exercer a cidadania e a liberdade de escolha de seu destino, com segurança e lucidez.

Esse estudo consistiu na tentativa e pretensão de impactar a visão dos estudantes e profissionais de Biblioteconomia, quanto à importância da atividade empreendedora no desenvolvimento econômico do país e para a necessidade de estarem atentos para as mudanças que ocorrem nas relações de trabalho, provocadas pela globalização e pelas inovações na tecnologia da informação e, assim, procurarem desenvolver um perfil que possa condizer com as exigências das demandas sociais e do mercado de trabalho na sociedade contemporânea. Pretende, também, sensibilizar as instituições de ensino, principalmente os cursos de Biblioteconomia no Brasil, para a necessidade da inserção de atividades acadêmicas que contemplem a disseminação da cultura empreendedora no sentido de induzir o alunado a desenvolver um comportamento empreendedor, no sentido de autônomo e emancipado, longe, portanto, da lógica imperialista do capitalismo neoliberal.

Faz-se necessário dizer, que, apesar do uso de uma metodologia criteriosa para realização dessa pesquisa, o universo trabalhado foi reduzido e, sendo assim, os resultados não podem estabelecer parâmetros de comparação com um universo maior. Deste modo, reconhece-se a necessidade de que sejam realizados estudos mais amplos.

 

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